sexta-feira, 5 de julho de 2013
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
MANIFESTO DO FORUM INTERSETORIAL DE SAÚDE MENTAL DE MATO GROSSO SOBRE A OPERAÇÃO INTEGRADA DE SEGURANÇA PÚBLICA - ÁGAPE
O Fórum Intersetorial de Saúde Mental de MT (FISM) vem
a público manifestar sua posição sobre o Plano de Operações nº 002/SESP/2012, que
é uma Operação Integrada de Segurança Pública com foco nos moradores em
situação de rua, que para a Secretaria de Segurança Pública - SESP são
claramente usuários de drogas. Esta operação pretende “limpar” a cidade e
promover a “paz social” em Cuiabá-MT, o que para nós do FISM é um grande
equívoco.
Lembramos que o FISM defende as diretrizes do Sistema
Único de Saúde (SUS), da Política Nacional de Saúde Mental, o cumprimento da
Lei Federal nº 10.216/2001 conhecida como Lei da Saúde Mental e o relatório da
IV Conferência Nacional de Saúde Mental (2010), que reafirmaram conceitos e
diretrizes neste campo. Assim sendo, os debates e posições do FISM não são
baseados em opiniões pessoais, mas sim posições coletivas, construídas a partir
da experiência profissional e da escuta de familiares e usuários dos serviços
do SUS bem como os vários espaços de debates sobre a Saúde Mental (Conselhos
Estadual e Municipal de Saúde, Fóruns, Universidades, Sindicatos, Conselhos de
classe e de direito, etc). Além disso, o FISM está em constante debate com
outros movimentos sociais de todo o Brasil em prol da sustentação dos direitos das
pessoas em sofrimento mental e/ou com problemas decorrentes do uso de álcool e
outras drogas.
Observa-se que as políticas públicas para o tratamento
de pessoas em uso abusivo de drogas é “a bola da vez”, não só pelo motivo do
aumento do número de pessoas em uso delas, mas também pelo modo como se poderá
usar esta questão em prol de interesses individuais, de grupos e de políticos.
Sendo assim estamos vendo políticos e gestores dos serviços públicos
apresentarem à população medidas e intervenções imediatistas que reforçam ainda
mais a exclusão e os mitos que envolvem esse campo. Propagam a internação
compulsória como a única forma de tratamento justificada na incapacidade do
usuário de drogas em definir o que quer, se colocando assim como os defensores
da sociedade, dos mais fracos, querendo acabar com o “mal que assola nossa
sociedade”. Esse discurso encobre uma dura realidade em nosso país: das desigualdades,
da corrupção, do não investimento em saúde e educação.
O uso de drogas não surgiu em nossos dias. Há quantos
séculos o homem se relaciona com substâncias psicoativas para se colocar em uma
experiência física e mental para além de sua possibilidade de percepção?
Guerras foram deflagradas por nações por causa do ópio (China e Inglaterra). O
tabaco foi uma das descobertas mais lucrativas com a colonização das Américas.
O álcool foi proibido nos tempos de recessão dos Estados Unidos para impedir o entorpecimento
dos trabalhadores das fábricas, e assim não comprometer seus lucros.
Atualmente, uma pequena parcela da população tornou-se
usuária e/ou dependente do crack e da pasta base de cocaína, pessoas estas que
já se encontravam em vulnerabilidade social pelos mais diversos motivos e, que
já possuíam inúmeros transtornos de ordem mental, emocional, social, mas ao
passarem a representar um risco para a sociedade e um sintoma social que,
segundo a lógica da “ordem e do progresso”, não servem para mais nada, devem
ser retiradas do cenário, varrendo o lixo para debaixo do tapete. Em tempo, as
drogas que mais matam continuam sendo o álcool e o tabaco.
Hoje, dezembro de 2012, está em ação um famigerado
Plano de limpeza da cidade organizado pela SESP-MT (OPERAÇÃO INTEGRADA ÁGAPE),
no intuito da lógica acima descrita, ou seja, muito mais de retirar pessoas
assustadoras do cenário urbano do que em atendê-las em sua vulnerabilidade.
Tratar a vulnerabilidade social é diminuir desigualdades em um processo firme,
porém de médio a longo prazo, de forma intersetorial, pois a situação de rua
tem origem multifatorial (desemprego, falta de educação, moradia, transtornos
mentais, problemas familiares, violência no lar, etc).
Apesar do Plano de Operação Integrada Àgape ter sido
divulgado que seria com a participação de vários setores do poder público, na
prática não houve o diálogo para a intersetorialidade que um plano como este
requer, e ainda sabe-se que os profissionais dos serviços de saúde mental que
teriam que prestar alguma assistência foram somente comunicados da chegada de
várias pessoas ao serviço, coagidos da mesma forma que os cidadãos de rua a
responder somente a ordens e determinações, desqualificando assim qualquer
avaliação por parte dos mesmos.
Esta “operação” (termo policial) tem como objetivo o
“recolhimento, triagem e condução para local apropriado de tratamento”. É
considerado por este plano que todas as pessoas em situação de rua são
usuárias de drogas. Para o FISM a essência deste plano é estritamente
repressiva, autoritária e aviltante, pois fala em “recolhimento”, coisificando
pessoas como se fosse lixo, e fala de “resgate da paz social”, como se paz
dependesse da retirada dessas pessoas das ruas. A propósito, a operação AGAPE
(no grego significa amor de Deus), realizada em dezembro (NATAL) é no mínimo
perversa, na medida em que se utiliza de um nome sugestivo de fraternidade e
uma data comemorativa para impor uma certa lógica de “tratamento”.
Para restituir a cidadania às pessoas marginalizadas socialmente
é necessário o cumprimento de formas de organização de serviços já preconizadas
pelo setor saúde, educação, assistência social, justiça, segurança pública,
etc, mas falta vontade política e empenho dos gestores públicos.
As a ações esporádicas deste plano não podem e nem vai
resolver o problema. As pessoas precisam de famílias sem violência, de
trabalho, de saúde, de casa pra morar, de escola, etc. Não é uma internação
obrigatória que isola do convívio, não é um remédio, um banho, uma roupa uma só
vez que tira uma pessoa da situação de exclusão e abandono. Por isso, a maioria
das pessoas que foram reprimidas e recolhidas por esta operação já está
novamente na rua. Fugiram!
Cuiabá possui um serviço ligado à Secretaria Municipal
de Saúde, preconizado na Política Nacional de Saúde Mental, que faz um trabalho
de abordagem e acolhimento às pessoas em situação de rua encaminhando-as aos
serviços públicos da cidade – o Consultório de Rua (CR). O vínculo e a
confiança construída em um ano de trabalho do CR ficaram abalados, pois a
operação, que representa o poder, veio em nome da “ordem e progresso” com
repressão e compulsoriedade. O CR tem uma proposta acolhedora, de cuidado em
saúde com as pessoas, de resgate da cidadania baseada em direitos, e devidamente
executada por profissionais habilitados para tal, e portanto com todas as
chances de efetivamente obter bons resultados.
O tratamento para a dependência química é bastante
complexo, considerando os múltiplos fatores que envolvem o problema. A adesão ao
tratamento é difícil, as recaídas fazem parte e dificuldades do manejo são
infinitas, sem falar do trabalho de quebra de paradigmas junto a família e
sociedade para uma tecnologia assistencial que
adota procedimentos baseados em conhecimentos científicos e não mais em
posturas morais e religiosas que só reforçam preconceito e exclusão.
O que podemos esperar de uma operação em que o
tratamento/assistência está associado a repressão e punição? Que resultado
pode-se obter de uma ação como esta que não seja somente o aumento da
dificuldade já existente para se alcançar esta população de forma que se
vinculem a algum serviço e assim passem a ter possibilidades de recobrar a
visibilidade, a saúde e a humanidade perdida, seja pelo uso de drogas ou de
suas vulnerabilidades individuais, sociais, emocionais, familiares ou
financeiras?
Finalizando, o FISM vem repudiar as ações da Operação
Ágape realizadas em Cuiabá e adjacências, pois usam da autoridade estatal para
violar princípios éticos e de cidadania com ações normalizadoras em detrimento
de uma responsabilização necessária diante da grandeza do problema. O povo
precisa é de cuidado!!
quarta-feira, 30 de maio de 2012
MANIFESTO DO FISM SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRATAMENTO A PESSOAS EM USO PREJUDICIAL DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
18 DE MAIO DE 2012 DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL
28 DE MAIO DE 2012 DIA DE PUBLICAÇÃO DA LEI ESTADUAL DE SAÚDE MENTAL
O Fórum Intersetorial de Saúde Mental de MT vem a público esclarecer sua posição no debate em torno do Tratamento para Pessoas em uso prejudicial de substâncias psicoativas instaurado em todo o Brasil. Primeiramente é preciso relembrar que o Fórum Intersetorial de Saúde Mental tem como base de suas ações as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e o relatório da IV Conferência Nacional de Saúde Mental no sentido de incentivar o controle social em suas várias maneiras de acontecerem (Conselhos, Sindicatos, Foruns, etc). Ou seja, nossos debates e nossas posições não são baseados em opiniões pessoais, mas sim posições coletivas construídas a partir da experiência e escuta de familiares e usuários dos serviços do SUS e participação nos vários debates sobre a Saúde Mental.
Dia 18 de maio de 2012 comemoramos 25 anos do movimento da Luta Antimanicomial. Foi o dia em que trabalhadores da saúde mental da cidade de Bauru-SP reuniram-se para reivindicar tratamento digno aos portadores de transtornos mentais. Este movimento subsidiou a Reforma Psiquiátrica, através da Lei Federal 10216 de 2001, trata da proteção e direitos de pessoas com transtorno mental e usuários de álcool e drogas e redimensiona, dando diretrizes de tratamento aberto como principal eixo de inclusão dos “diferentes”.
A questão das políticas públicas sobre o tratamento para a dependência química é “a bola da vez”. É grande o interesse da população pelo assunto relacionado às drogas, o que faz com que gestores, políticos, entre outros, apresentem à população medidas que reforçam ainda mais a exclusão e os mitos que envolvem esse campo. Propagam a internação como a única forma de tratamento e também a incapacidade do usuário de drogas em definir o que quer, pautados nestes lemas se colocam como os defensores da sociedade, dos mais fracos, querendo acabar com o “mal que assola nossa sociedade”. Esse discurso encobre uma dura realidade em nosso país, das desigualdades, da corrupção, do não investimento em saúde, educação e segurança pública.
A dependência química não é uma novidade. Há quantos séculos o homem se relaciona com substâncias psicoativas para se colocar em uma experiência física e mental para além de sua possibilidade de percepção? Guerras foram deflagradas por nações por causa do ópio (China e Inglaterra). O tabaco foi uma das descobertas mais lucrativas com a colonização das Américas. O álcool foi proibido nos tempos de recessão dos Estados Unidos por impedir a entorpecer trabalhadores das fábricas, comprometendo seus lucros.
Atualmente uma pequena parcela da população tornou-se dependente do crack, da pasta base e do ox. Pessoas que já se encontravam em vulnerabilidade social, já possuíam inúmeros transtornos de ordem mental, emocional, social. E estas mesmas pessoas representam um sintoma social que, segundo a lógica da “ordem e do progresso”, devem ser retiradas do cenário, como varremos o lixo para debaixo do tapete. Porém, as drogas que mais matam continuam sendo o álcool e o tabaco.
A população mato-grossense desconhece que desde dezembro temos uma Política Estadual de Saúde Mental aprovada pelo Conselho Estadual de Saúde e publicada no Diário Oficial do Estado. Já esta semana, em 28 de maio de 2012, tivemos a publicação da Lei Estadual de Saúde Mental alinhada à Lei Federal 10216 de 2001, dando as diretrizes de como gestores estadual e municipais devem cuidar da saúde mental da população. A proposta do Ministério da Saúde não foi minimamente implantada pelos gestores, que consiste em uma rede complexa formada por:
- capacitação dos profissionais dos PSFs, implantação dos NASFs (Núcleos de Apoio ao Saúde da Família),
- CAPS suficiente para o número de habitantes e de fácil acesso à população, Leitos Psiquiátricos em Hospitais Gerais para emergências psiquiátricas como desintoxicação e agitação psicomotora,
- Consultórios de Rua em quantidade suficiente
- Programa de Redução de Danos com redutores de danos ativos,
- prédios de saúde mental com infra-estrutura minimamente digna,
- profissionais em saúde mental ganhando salário digno e servidor público com vínculo garantido, através de concurso público;
- SAMU capacitado em saúde mental;
- Residências Terapêuticas para desinstitucionalizar aqueles abandonados por suas famílias em manicômios;
- incentivo a Oficinas de Geração de Renda;
- Atenção Residencial Transitória, que acolhe a população que, em função da dependência química rompeu seus laços sociais.
Nenhum trabalhador de saúde mental hoje, mesmo aqueles que defendem as Comunidades Terapêuticas, estão satisfeitos com suas condições de trabalho. Todos concordam que a saúde mental foi sucateada e que a rede de atenção psicossocial que deveríamos ter não foi implantada. Desta forma é claro que a saúde não poderá produzir bons resultados. Além da saúde, existe área de assistência social, que pela Lei Orgânica de Assistência Social, desenvolvem seus atendimentos através dos CRASS (Centros de Referência de Assistência Social) junto às populações em vulnerabilidade, mas que também sabemos estão precarizados e isolados da rede de atenção psicossocial.
Cabem, portanto as questões: Por que os gestores não empregam o dinheiro arrecadado através da alta contribuição tributária (impostos) paga por todos nós cidadãos nos serviços de saúde mental que estão depredados? É aceitável que os gestores empreguem o dinheiro público em Comunidades Terapêuticas, que em alguns casos são iniciativas de “boa fé”, em outros são a reprodução dos manicômios que sobreviveram até a poucos anos atrás, antes de consolidar a rede de atenção psicossocial? Por que os gestores estão fechando os olhos às denúncias de infração de direitos humanos encontradas tanto em Unidades de Internação de Saúde quanto em Comunidades Terapêuticas (CTs), investindo os recursos para as CTs e não para os serviços que o Estado tem obrigação de manter? O aumento de instituições como essas não é resultado justamente da AUSÊNCIA DO ESTADO na consolidação do SUS? Por que à beira da Copa do Mundo no Brasil e das eleições para prefeitura e câmara de vereadores os gestores estão defendendo, como forma prioritária de política pública em saúde, técnicas já superadas ou duvidosas para a “cura” da dependência química? ENTENDEMOS QUE TODOS TÊM A LIBERDADE DE EXERCER SEU “AMOR AO PRÓXIMO”, MAS ESSAS PRÁTICAS NÃO DEVEM SER UMA MULETA DO ESTADO OMISSO EM SEU DEVER DE PROMOVER A SAÚDE.
O cenário atual se compõe de: milhares de famílias encontram-se em desespero por não saber como tratar seu ente que está dependente químico; uma parcela forte dos magistrados defende a internação compulsória como única maneira de garantir um tratamento; gestores do Poder Executivo desconhecem seus próprios serviços, desconhecem técnicas e linhas de tratamento e negligenciam programas de prevenção e promoção de saúde, enquanto isso fornecem armas para as operações de limpeza social.
Não é possível aceitarmos em um país que se diz democrático, que os gestores federal, estaduais e municipais revertam o que deveria ser uma exceção ou uma última opção após o que não deu certo (as comunidades terapêuticas e a internação compulsória), em prioridade e solução para o tratamento da dependência química.
As três esferas de governo (municipal, estadual e federal) têm acesso ao Relatório da IV Conferência Nacional de Saúde Mental, que envolveu aproximadamente 50 mil pessoas em todos os municípios do país em 2010. As três esferas possuem assessores e técnicos altamente qualificados para traçarem plataformas de governo e políticas públicas em saúde mental. Porém os gestores só têm ouvidos para as bancadas de deputados com interesses que beneficiam a si próprios e a uma ínfima parcela abastada da população. Gestores e parlamentares desconhecem a importância das Conferências de Saúde, que são um meio do controle social, mostrar aos gestores o que a população realmente necessita.
Sabemos que todos os recursos que estão sendo destinados à Copa do Mundo estão beneficiando grandes empreendimentos imobiliários que tornará o Brasil um lindo cenário sem sujeira pelas ruas, que agradará turistas durante um mês. Mesclados a essa sujeira encontram-se as pessoas em completo abandono, produzindo um suicídio coletivo. De onde essas pessoas vêm (por que estão assim)? Para onde essas pessoas vão (o que fazer para ajudá-las e evitar que novos cidadãos se excluam)? No desespero, a população completamente vulnerável, só pode contar com a “caridade” das iniciativas de técnicas e finalidades duvidosas, com promessas de cura e soluções milagrosas. Limpeza social: essa é a atual política pública em relação ao tratamento para dependência química.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE DIZ NÃO À REMOÇÃO DAS UNIDADES DE INTERNAÇÃO DO CIAPS ADAUTO BOTELHO PARA O PRÉDIO DO ANTIGO "NEURO"
Foi votado ontem (07/12/2012) por unanimidade pelo Conselho os seguintes encaminhamentos:
1 - NÃO à remoção das unidades de Internação do CIAPS Adauto Botelho ao prédio do antigo "Neuro";
2 - Solicitar a posição do Ministério Público Estadual quanto à solicitação de intervenção feita pelso servidores do CIAPS;
3 - Solicitar junta de Conselho Regionais de classes (COREN, CRM, CRP, CRESS, CREFITO) parecer quanto à atenção em saúde mental no Estado;
4 - Reivindicar redução de carga horária ou atenção especial à saúde do trabalhador em saúde mental;
5 - Responsabilizar a gestão quanto à Reforma e Manutenção dos prédios de patrimônio público para a adequação da assistência em nível terciário de saúde mental.
É o controle social "tomando pé" de sua responsabilidade, graças à provocação dos próprios atores sociais!!!
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
MANIFESTO DO FORUM INTERSETORIAL DE SAÚDE MENTAL DE MATO GROSSO SOBRE A REATIVAÇÃO DO PRÉDIO DO ANTIGO "Neuro".
Nos últimos 10 anos a Política estadual de Saúde Mental em MT vinha caminhando lenta e gradualmente na mesma direção da Política Nacional. Os profissionais que apresentavam trabalhos nos congressos nacionais e latinoamericanos relatando suas experiências de sucesso com a reinserção social de pacientes, com uma clínica afinada aos grandes centros de referência mundiais em Saúde Mental, eram sempre elogiados e premiados pelos profissionais de todos os outros Estados do Brasil.
Todas as ações da Política estadual estavam em congruência com a ampliação da rede de atenção psicossocial, que ocorreu entre o ano de 2002 a 2009, aumentado e melhorando a qualidade dos serviços substitutivos ao manicômio como os CAPS (colocando o estado com uma boa avaliação no ranking nacional), incentivando a implantação dos Núcleos de Apoio ao Programa Saúde da Família (NASFs),
projeot que está apenas iniciando.
Toda essa política, é claro, sempre dependeu em grande parte da vontade dos gestores municipais, dependeu da adesão da sociedade civil a uma nova concepção do que é “ser normal”. O número de profissionais da saúde mental foi se ampliando e hoje este campo conta com a atuação de especialistas, pesquisadores, militantes que imbuídos pelo conhecimento técnico, pela experiência e o exercício político e científico elevaram a qualidade da atenção e conseqüentemente contribuem para uma melhor recuperação de
seus usuários.
É preciso de uma vez por todas entender que os transtornos mentais não têm cura (sob a perspectiva organicista). Além disso, não será uma internação, seja ela de quanto tempo for, que fará um sujeito em sofrimento passar a ser um sujeito “normal”, já que o sofrimento exige atenção integral e continuada; o tratamento precisa incluir a dificuldade de adesão, os impasses e os imprevistos que cada sujeito apresenta em sua singularidade.
Agora nos espanta o gestor estadual, em 9 meses ocupando a pasta, ostentar sua maior ação em saúde mental no Estado: ressuscitar o Manicômio. Valendo-se do sofrimento de inúmeras famílias que não sabem mais como tratar de seus entes queridos, que nunca souberam que seu maior direito era exigir serviços de atenção continuada e abertos, o governo do Estado anuncia aos quatro ventos que alugará um imóvel de propriedade privada há 20 km do Centro de Cuiabá, com modelo arquitetônico de prisão, para aumentar o
número de leitos psiquiátricos.
Nossos colegas psiquiatras, que sempre tiveram críticas à Reforma Psiquiátrica estão horrorizados com essa ação, mesmo não concordando com as condições atuais dos prédios do CIAPS. A Política Nacional preconiza a ABERTURA DE LEITOS PSIQUIÁTRICOS EM HOSPITAIS GERAIS. Os atuais prédios de internação do CIAPS Adauto Botelho estão sucateados por anos de descaso e falta de repasse dos recursos provindos do Ministério da Saúde. Isso deveria levar a uma ação de reforma dos prédios do Estado e não de um imóvel de propriedade privada.
Entendemos com essa ação que o que está sendo efetuado como grande feito para a sociedade é: “vamos varrer o lixo social para baixo do tapete, vamos tirar das ruas os marginais (loucos e drogaditos) e colocá-los bem longe para que não perturbem a paz”. Afinal somos o único Estado a instituir uma secretaria especial para lidar com o empreendedorismo que a Copa de 2014 necessita!
Além de espantoso, tudo isso nos indigna e o Fórum Intersetorial de Saúde Mental de MT convocam toda a sociedade a participar conosco em prol da Saúde Mental em MT no dia 10 de outubro (Dia Internacional da Saúde Mental) do ABRAÇO AO ADAUTO. Às 9 horas, em frente ao atual prédio da Unidade I, no COPHEMA, dentro do Parque Zé Boloflô.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
MANIFESTO DO FORUM INTERSETORIAL DE SAÚDE MENTAL EM DEFESA DOS TRABALHADORES DE SAÚDE MENTAL E DO TRATAMENTO "HUMANIZADO"
Neste período de intensas turbulências no cenário político pelo qual a saúde passa e em especial a saúde mental, que permanece excluída e preterida dentro da própria saúde, a "troca de tiros" entre lados está se dando sem a mira no alvo certo.
Nosso Fórum surgiu justamente porque nós, profissionais, usuários, familiares, professores, estudantes, não pactuamos com a falta de resposta dos gestores diante das demandas apresentadas, mas principalmente porque as primeiras manifestações no sentido de "responder à demanda social" vieram no sentido de terceirizar a saúde mental.
Entendemos a importância dos meios de comunicação ao divulgar de forma imparcial nossas manifestações. Porém, tivemos a desagradável surpresa de assistir a uma reportagem que, confiando demais no senso comum, atribuía aos profissionais o descaso e uma assistência desumana. Isso reflete que eles ainda são considerados “bodes expiatórios”, responsáveis pelos problemas dos serviços públicos de saúde neste país!
Estamos juntos na luta por melhores e mais condições de tratamento, pela implantação de uma Política de Saúde Mental em nosso Estado e não reforçaremos a exclusão que os usuários de saúde mental vivem diariamente. Mas não podemos nos calar ao ver sendo atribuídas aos profissionais as péssimas condições de tratamento oferecidas aos usuários da saúde mental. Isso mascara uma realidade que é muito mais abrangente e complexa.
Estamos falando da precarização do trabalho, das condições insalubres do ambiente de trabalho, a falta de investimento e perguntamos qual a importância que nossos políticos, gestores dão para a Saúde Mental.
Ao longo do tempo o investimento na qualificação dos profissionais pelos órgãos governamentais foi diminuindo, os profissionais da saúde mental pagam com seus próprios recursos, seus cursos de formação, especialização, mestrado e participação em eventos. Trabalham muitas vezes sem nenhum recurso material, pois os recursos são tragados pelos serviços terceirizados e o trabalho terapêutico fica. Fazem da sucata um meio terapêutico para sustentar o maior instrumento de trabalho que é o vínculo entre os usuários e a equipe. Muitos trabalhadores, diante dessa realidade, adoecem e sofrem como os usuários a exclusão da sociedade que vêem neles a imagem deturpada “do culpado pelo atendimento desumano”.
O dia 18 de maio é o dia Nacional da Luta Antimanicomial. Luta iniciada por TRABALHADORES da saúde mental em 1987 e que junto com usuários e familiares conquistaram a Reforma Psiquiátrica, ou seja, a mudança na forma de tratar os usuários, oferecendo serviços que procuram trabalhar sua melhora em liberdade não tirando-os do convívio na sociedade. Anteriormente a esta mudança, a única opção para tratar os pacientes eram os manicômio, nos quais os pacientes tomavam banho de vassoura (como animais), o eletrochoque era administrado como castigo, viviam em colônias isoladas da sociedade esquecidos pelos familiares.
Em 2001, graças a esse movimento social iniciado pelos trabalhadores, foi promulgada a Lei 10.216 do Ministério da Saúde que mudou drasticamente o cenário da saúde mental no Brasil. No ano passado, aconteceu a IV Conferência Nacional de Saúde Mental, espaço democrático que usuários, familiares e profissionais discutiram propostas para melhoria das políticas públicas e do tratamento. Atualmente, em Mato Grosso, são esses mesmos profissionais que redobram-se, deixando suas famílias e casas para se reunirem fora de seus horários de trabalho, junto com os usuários, na luta pela implantação de uma Política de Saúde Mental em nosso Estado no nosso Forum Intersetorial de Saúde Mental.
Por isso, MANIFESTAMO-NOS REPUDIANDO O DESRESPEITO AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL E CONVOCAMOS A TODA IMPRENSA A APROFUNDAR O DEBATE NA SEMANA DE MOBILIZAÇÃO PELA EFETIVAÇÃO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE MENTAL NO ESTADO DE MATO GROSSO: “SAÚDE MENTAL: DIREITOS CONQUISTADOS, DIREITOS GARANTIDOS?”.
A SEMANA TEM INÍCIO NO DIA 16 DE MAIO, ÀS 19 HORAS, NO CENTRO CULTURAL DA UFMT. SEGUE COM AUDIÊNCIA PÚBLICA NA CÂMARA DE VEREADORES NO DIA 18 ÀS 8:30 H E À TARDE TEREMOS UMA GRANDE MANIFESTAÇÃO DE PROFISSIONAIS, USUÁRIOS, FAMILIARES, ESTUDANTES, PROFESSORES NA PRAÇA ALENCASTRO.
Assinar:
Postagens (Atom)